15 de mai. de 2011

Documentário: Passaporte Húngaro

Documentário que assisti assim que entrei na UnB, para arquivologia! 

Não poderia deixar de recomendar esse documentário, Passaporte Húngaro. Logo, no meu primeiro semestre de curso, o assisti na aula de introdução a arquivolgia com a Profa. Dra. Georgete Medleg, por sinal, uma excelente professora. 
Resumidamente, ele conta a tragetória de Sandra, uma brasileira, que para conseguir um passaporte húngaro teve de buscar, na história  dos seus antepassados e nos documentos informações como nos períodos de exílios.

Ficha Técnica:

Gênero: Documentário
Direção: Sandra Kogut
Idioma: Português, Inglês, Francês, Húngaro
Legendas: Português, Inglês, Francês
Ano de produção: 2002
País de produção: França, Brasil, Bélgica, Hungria
Duração: 71 min.
Descrição de extras: Curta-metragem realizado por Sandra Kogut, em 1997, com a participação dos moradores dos vales Aspe e Ossau. E entrevista do crítico José Carlos Avellar com a diretora Sandra Kogut.

Filme:

 A pergunta de uma brasileira (uma pessoa com avós húngaros tem direito a um passaporte húngaro?) parece partir da vontade de construir uma identidade plural, de ganhar um passaporte húngaro sem perder o brasileiro. Ser outra pessoa sem deixar de ser ela mesma. Pertencer a um país e a outro ao mesmo tempo. Enquanto conta a história do passaporte de Sandra, o documentário conta também a história do passaporte de seus avós, marcados por um carimbo com a letra K e dentre outras histórias a de sua avó, uma mulher austríaca que se tornou húngara com o casamento e que se viu obrigada a deixar a Hungria expatriada e migrar para o Brasil, em 1937, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Para conseguir seu passaporte, inicialmente, Sandra Kogut liga para o consulado da Hungria, em maio de 1999, e pergunta se uma pessoa com um avô húngaro tem direito a um passaporte húngaro. Um homem , na linha, acha que não, que um neto de húngaro não tem direito a um passaporte húngaro e uma mulher, em outra chamada, pergunta se ela poderia reunir documentos capazes de provar a origem húngara de seus avós. Diante disso, Sandra começa a levantar os documentos necessários e acaba se interessando mais pela história de seus avós do que propriamente pelo passaporte. 

Sandra vai a busca de seu passaporte húngaro e, por ser cinegrafista, é ela quem filma grande parte do documentário. Ela observa, filma e atua como personagem do documentário. Filma suas idas ao consulado, pesquisas em arquivos e encontros com familiares com um pequeno vídeo digital. A idéia de pedir um passaporte húngaro surgiu simultaneamente com a de filmar o pedido. Ela documenta todo o processo para conseguir o passaporte – que se estendeu por dois anos – e, enquanto filma, não tem idéia do que vai ocorrer em seguida: filma dirigida pelos fatos (como habitualmente num documentário). Além das imagens de Sandra, existem imagens filmadas por dois outros cinegrafistas: Florent Jullien e Florian Bouchet.

A aventura da brasileira neta de húngaros se transforma numa conversa (entre outras questões) sobre as dificuldades de judeus húngaros para escapar do nazismo e conseguir um visto para o Brasil e, uma vez conseguido o visto, sobre as dificuldades de desembarcar no Brasil. Sandra, em busca de um segundo passaporte, descobre o passaporte de sua avó, Mathilde Lajta. Os comentários da avó importam tanto pelo que ela diz quanto pelo modo de dizer. A avó,  austríaca que se tornou húngara com o casamento e decidiu viver no Brasil, fala em português, mas constrói as frases como quem pensa em alemão.

Os parentes de Sandra em Budapeste contam quantas vezes a família mudou de nome: um nome judeu, Shmuel Yaacov Ber, por um nome alemão, Maximiliam Friedman; o nome alemão por um nome italiano, Gyuri Fábri; o nome da família, Loewinger, para Latja, rio na fronteira entre a Hungria e a Polônia.

As conversas sempre cheias de sotaques e em diversas línguas: português, inglês, francês, húngaro, hebraico, reafirmam a idéia de uma identidade meio de caminho, a idéia de uma mudança todo o tempo de um lugar para outro. Movimentar-se de uma cultura para outra, de uma língua para outra.

Tomando o filme como um todo podemos dizer que o que vemos e o que importa de verdade: não é Sandra e talvez nem mesmo as pessoas com quem ela conversa  – os funcionários da embaixada e dos arquivos, os parentes e toda a gente que como ela solicita um passaporte húngaro. O documentário é sobre estas pessoas também, mas principalmente sobre muitas outras destituídas de identidade que foram jogadas para fora do quadro húngaro, para fora do quadro europeu, no final da década de 1930, expatriadas com uma letra K carimbada em seus passaportes.

Fica perceptível no documentário que o resultado do trabalho de Sandra está na procura, não no encontro. Está na busca, na investigação.

Por: Raquel Moreira.

Fontes:
Escrever cinema

1 comentários:

Caroline Sodré disse...

Eu realmente adorei esse filme. Se houvessem arquivos no nível dos europeus no Brasil muitas memórias seriam recuperadas.

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